Ima Aparecida Braga, Ph. D.
Entomóloga
Introdução
Além dos inseticidas químicos propriamente ditos, outros produtos vêm sendo usados no controle de vetores. Esses produtos pertencem principalmente aos grupos dos inseticidas biológicos e dos reguladores de crescimento.
Os reguladores de crescimento (ou IGR, sigla derivada de “Insect Growth Regulator”) são considerados inseticidas alternativos. Os IGRs mais utilizados no controle de mosquitos pertencem ao grupo das benzoil-feniluréias (inibidores de síntese de quitina) ou são compostos quimicamente relacionados ao hormônio juvenil natural de insetos, e são designados como análogos de hormônio juvenil (AHJ) (Slama et al. 1974). Em geral, os IGRs têm altos níveis de atividade e eficácia no controle de várias espécies de insetos, em diferentes habitat (Mulla et al. 1989).
Dentre os inibidores da síntese de quitina mais utilizados inclue-se o diflubenzuron que é recomendado pela OMS como larvicida (Chavasse e Yap 1997).
Segurança e eficácia para o uso de diflubenzuron
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o diflubenzuron um produto seguro à saúde humana, tendo cumprido todos os protocolos do Programa Internacional de Segurança Química - IPCS ( e, foi recentemente aprovado pelo Comitê de Especialistas da OMS para uso em água potável (Expert Consultation for the 4th edition of the Guidelines for Drinking-water Quality. OMS, 2007) disponível online na seguinte página: https://www.who.int/water_sanitation_health/dwq/gdwq3rev/en/index.html.
O diflubenzuron teve sua eficácia e efetividade avaliada durante o estudo coordenado pela Secretaria de Vigilância em Saúde no período de 2004 a 2005 e em estudos de campo e simulados de campo teve uma persistência de 8 semanas (MS 2005).
Em estudos posteriores foi avaliada a aceitação pela população e agentes de saúde e também sua efetividade. Foi verificado que não houve nenhum problema com relação aos agentes de saúde em quanto a operacionalidade e segurança. Entretanto, é necessário o treinamento dos agentes de saúde e a conscientização da comunidade, pelo fato do produto não matar imediatamente pois a morte da larva ocorre pela inibição da ecdise. Essa morte é mais lenta do que os inseticidas considerados convencionais ocorrendo cerca de uma semana após a aplicação.
Modo de ação das benzoil-fenil-uréias (BPU)
As benzoil-fenil-uréias (BPU) inibem a síntese de quitina nos insetos (Post e Mulder 1974), resultando em interferência com a formação de cutícula a cada vez que o inseto inicia a muda (Mian e Mulla 1982). Isto ocorre porque a cutícula apresenta quitina em sua composição.
Depois de ingerir o inseticida, as larvas têm dificuldades na mudança periódica do exoesqueleto (“cuticula”), conhecida como ecdise. A conseqüência disso é que a cutícula mal formada pode não suportar a pressão interna durante a ecdise, ou não conseguir dar suficiente suporte aos músculos envolvidos, resultando na incapacidade de liberar os restos deixados pelo inseto (exúvia) e na morte das larvas..
Aplicação do diflubenzuron em campo
O diflubenzuron apresenta-se na formulação Pó Molhável a 25% (250 gramas de ingrediente ativo por quilo de formulação). O Programa de Avaliação de Pesticidas da OMS (WHOPES) recomenda o seu uso na dosagem de 0,25 mg/litro.
Os procedimentos sobre a preparação e dosagem do produto são detalhados a seguir:
- Tratamento de depósitos pequenos (até 500 litros): o produto deverá ser previamente diluído em uma “solução mãe”, colocando-se 3,0 gramas para cada litro de água e aplicado no campo com a ajuda de uma pipeta graduada em mililitros (ml), obedecendo a tabela abaixo.
•Tratamento de depósitos grandes (acima de 500 litros): para uso em recipientes maiores, recomenda-se aplicar 1 (uma) grama do produto comercial (PM25%) para cada 1.000 litros de água a tratar, diluindo-se previamente o pó em pequena quantidade de água do criadouro, visando homogenizar o produto e depois aplicar no depósito. Deverá ser obedecido a tabela abaixo para a diluição.
- Tratamento de Pontos Estratégicos: a suspensão poderá ser aplicada com o mesmo equipamento utilizado em aplicações residuais, devendo-se direcionar o jato para locais onde pode haver acúmulo de água, como em pneus e sucatas não protegidas. Deve-se considerar que o produto deverá se acumular na parte mais baixa do depósito, ficando o local protegido quando receber água. Deverão ser diluídas 3 gramas do produto comercial para 10 litros de água.
Bibligrafia
Chavasse DC, Yap HH 1997. Chemical methods for the control of vectors and
pests of public health importance. WHO/CTD/WHOPES/97.2.
Mian LS, Mulla MS 1982. Biological and environmental dynamics of insect growth
regulators (IGRs) as used against Diptera of public health importance. Res.
Review 84:27-112.
Ministério da Saúde. 2005. Avaliação da eficácia de análogos de hormônio juvenil e inibidores da síntese de quitina no controle de Aedes aegypti.
Mulla MS, Darwazeh HA, Schreiber ET 1989. Impact of new insect growth
regulators and their formulations on mosquito larval development in
impoundment and floodwater habitats. J. Mosq. Control Assoc. 5(1):15-20.
Slama K, Romanuk M, Sorm F 1974. Insect Hormones and Bionalogues. Springer
Verlag, New York.
World Health Organization. 2005. Who specifications and evaluations
for public health pesticides: diflubenzuron (1-(4-Chlorophenyl)-3-(2,6-Difluorobenzoyl)Urea).
World Health Organization. 2007. Guidelines for drinking-water quality [electronic resource] : incorporating first addendum. Vol. 1, Recommendations. – 3rd ed.
Ministério da Saúde. 2005. Avaliação da eficácia de análogos de hormônio juvenil e inibidores da síntese de quitina no controle de Aedes aegypti
Informações sobre o uso do larvicida Diflubenzuron – PM 25
Em locais onde o sistema de monitoramento da resistência dos vetores aos inseticidas, tem detectado sinais de diminuição da suscetibilidade ao larvicida até então em uso (temefós), o Ministério da Saúde indica a substituição por larvicidas alternativos, como forma de controle larvário.
O diflubenzuron, produto à base de benzoil-fenil-uréia faz parte dos chamados IGR, sigla em inglês que significa “Insect Growth Regulator” – (Regulador do crescimento dos insetos). Atua como inibidor da síntese de quitina (ISQ), substância responsável pelo exoesqueleto dos insetos.
Os produtos para uso em água de consumo humano devem ser preconizados pela Organização Mundial de Saúde – OMS e autorizado pelo Programa Internacional de Segurança Química – IPCS, sendo até o momento, 5 os produtos para esta finalidade: Temefós, Bti, diflubenzuron, novaluron e piriproxifen. O emprego do diflubenzuron em água de consumo humano foi aprovado pelo Comitê de Especialistas da OMS (Expert Consultation for the 4Th Edition of the Guidelines for Drinking-water Quality. OMS, 2007).
O Ministério da Saúde realizou com estes produtos, testes de laboratório e simulados em campo nos seguintes municípios: Caicó/RN (2004), Arapiraca/AL, Marília/SP e Volta Redonda/RJ (2005), Governador Valadares/MG, Montes Claros/MG e Ribeirão Preto/SP e Arapiraca (2006). Dentre os produtos testados o Diflubenzuron apresentou os melhores resultados com relação à persistência (residualidade de 8 semanas), não tendo sido detectado nenhum problema com relação à população, e aos agentes de saúde quanto a operacionalidade e segurança.
Os agentes de saúde possuem um papel fundamental no combate a dengue, trabalhando sempre junto à população no sentido de manter o ambiente doméstico livre de potenciais criadouros do vetor Aedes aegypti.
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